segunda-feira, 24 de março de 2008
Nossa fé perdurou
Reproduzo o trecho final da autobiografia do 14º Dalai Lama, Minha Terra e Meu Povo (Editora Palas Athena, São Paulo, 1988), em que ele relata seu breve reinado no Tibete ameaçado pela China, a invasão do exército chinês e sua fuga de três semanas através da Cordilheira do Himalaia até a Índia. Citando a contracapa, esta sombria história é contada sob inspiração de um meigo espírito de perdão revelado por um monge budista:
A despeito dos crimes atrozes que os chineses cometeram em nosso país, não tenho absolutamente ódio algum em meu coração contra o povo chinês. Creio que é uma das maldições e perigos da época atual censurar nações pelos crimes de indivíduos. Conheci muitos chineses admiráveis. Suspeito que não há, no mundo, ninguém mais encantador e civilizado que os melhores chineses, e ninguém mais cruel e perverso que os piores deles. As atrocidades no Tibete foram cometidas por chineses da mais baixa espécie, soldados e oficiais comunistas corrompidos pela consciência de disporem do poder de vida e morte. A maioria dos chineses ficaria amargamente envergonhada se soubesse desses feitos; mas, naturalmente, nada sabem a respeito. Não devemos procurar vingança contra aqueles que cometeram crimes contras nós, ou replicar seus crimes com outros crimes. Devemos refletir que, pela lei do Karma, eles correm o perigo de vidas mais baixas e miseráveis no futuro e que nosso dever para com eles, como para com todo ser humano, é ajudá-los a se elevarem até o Nirvana, não os deixando mergulhar nos níveis mais inferiores do renascimento. O comunismo chinês dura há doze anos (*); mas nossa fé perdurou durante 2500 anos e temos a promessa de Buda de que perdurará outro tanto, até ser renovada pela vinda de outro Buda.
Nesses dias de esmagador poder militar, todos os homens e mulheres podem viver apenas de esperança. Se mereceram a benção de lares e famílias pacíficas, esperam poder mantê-las e ver seus filhos crescerem felizes; e se perderam seus lares, como nós, sua necessidade de esperança e de fé é ainda maior. A esperança de todos os homens, em última análise, é simplesmente a de paz de espírito. Minha esperança repousa na coragem dos tibetanos e no amor à verdade e à justiça que ainda está no coração da raça humana; e minha fé é na compaixão do Buda.
do blog: " para ser zen"
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