As borboletas voam, voaram, rodopiam, giram, voam...
Fiquei arrepiado no show Boca de Mulher, foi uma surpresa ouvir Desireé e sua versão heavy metal da clássica música do psicodélico Zé Ramalho. Suas mudanças de tons, a presença de palco. A música parecia ter sido composta pra ela. Borboleta metaleira.
Zé, o psicodélico, deveria ouvir ...
enquanto bailam as borboletas trazendo um sopro de esperança e criatividade para tempos tão caretas.
( fotos roubadas do orkut de Desireé)
segunda-feira, 31 de março de 2008
As Borboletas
O giro
mandalas em meu coração
firmeza em minha mente
o eterno giro do dervixe
a busca do si mesmo
ondas do mar
areias do deserto
um chá
um cacto
sonhos psicodélicos
em um país neo liberal
explodem estrelas
super novas
super velhas
mosquitos em volta da lâmpada
o giro
Mentes que rodopiam
e tornam a circular
ondas psicodélicas
samsara e nirvana
ordem no caos
No caleidoscópio da vida
a roda não pode parar
gira gira gira
torna a girar
e mais uma vez
o giro
domingo, 30 de março de 2008
O CASAMENTO II
Seria apenas mais uma sexta feira tediosa no cartório se não fosse a novidade: dois rapazes ,
( devidamente vestidos de terno preto , elegância pura !) com flores na mão estarem oficializando a repentina paixão em um contrato, o documento que legitima a união. Embora o documento ainda não fique registrado na vara da família, já é um grande feito a celebração do casal Germano Marino e Dênis Puerta.
O casamento , por assim dizer, deixou grandes histórias. Não pude comparecer, mas acabo de chegar de uma pizza com Germano, aonde me deliciei ouvindo suas histórias. Os transeuntes querendo saber que muvuca era aquela na frente do cartório se espantavam ao saber " é o casamento dos gays". Flashs de máquinas fotográficas, câmeras de celulares e de TVS, todos procurando registrar o acontecimento. Um moto taxista ficou na porta do cartório anunciando para quem passava " aqui que dois homens estão se casando". Outro cidadão indignado saiu do cartório bravejando " Aonde este mundo vai parar, quanta pouca vergonha".
Na hora da troca de alianças Germano não aguentou a emoção e seus olhos encheram se de lágrimas, assim como os do companheiro Dênis, o da amiga e fiel escudeira Rose Farias, da mãe
( maravilhosa mãe) Rosa e da avó. Aquela aliança significava mais do que a união dos dois. A aliança também se tornou o símbolo de novos tempos.
No meio do papo, durante a pizza, perguntei se não estamos vivendo um revolução. Revolução que ainda tem muita luta pela frente para se concretizar. revolução de consciência, de costumes.
Quando o pai do Germano disse para a televisão que para ter a coragem de ter a atitude do filho e de Dênis tem de ser muito macho, concordo plenamente. O mundo em que vivemos ainda tem muito o que caminhar em direção ao respeito e tolerância. O preconceito se manifesta em diferentes níveis. Desde o ódio absoluto pelo diferente até as sutis manifestações inconscientes. Tememos o que é diferente a nós, tememos o que não conhecemos, tememos muita coisa. Aguentar a pressão , as gozações e a incompreensão de ser gay e ter a coragem de se assumir como tal tem de ser muito macho mesmo.
Espero o dia em que um casamento gay não precise de televisão e nem de manchete em jornal. Não será mais motivo de alarde, nem será um ato de conscientização. Neste dia será um casamento comum e normal como qualquer outro, sem rótulos, sem especulaçõs. Talvez esteja longe disso acontecer, talvez mais perto que eu imagino. Quem entende este mundo veloz e contraditório ? De um lado um ato tão revolucionário como este e do outro centenas de pessoas como fantoches seguindo um deputado cego numa cruzada medieval.
Desejo toda a sorte do mundo para meu amigo e felicidade também. Fico poor aqui matutando e querendo entender tanto barulho. É tão simples.
É somente amor...
sábado, 29 de março de 2008
O casamento !!!
Poucos dias atrás, dezenas de evangélicos lotaram a praça e escadaria do Palácio de Rio Branco, em grande fervor, liderados pelo deputado Henrique Afonso, em mais um ato de suas cruzadas, como assim disseram.
Estive lá, precisava conseguir entender aonde querem chegar, qual o sentido de tal manifestação. Oravam para acabar com as pesquisas de células troncos, em relação aos projetos de leis sobre o casamento civil entre homossexuais e contra a criminalização da homofobia. O ato era muito mais político do que religioso.
Fico muito preocupado com esta perigosa união entre altar e trono. Está ai o passado para nos lembrar o que essa dobradinha já provocou: centenas de mulheres queimadas sob acusação de bruxaria, cobranças absurdas de indulgências, entre tantas outras loucuras. Hoje as bruxas são outras, mas o discurso é o mesmo, maquiado com moralismo barato, fervor emocional, a razão se perde e na cegueria do fanatismo o Estado corre o risco de se casar com a igreja. Quem orou naquela noite fui eu. Orei por um Estado verdadeiramente laico.
Na escuridão da intolerância e do preconceito um facho de luz. Meu amigo Germano Marino casou - se com o nutricionista Dênis Puerta nesta última sexta feira, no cartório da cidade de Rio Branco. Com direito a beijos e trocas de alianças, sob olhares incomodados dos que esperavam no cartório para serem atendidos e olhares cheios de emoção dos amigos presentes.
Parabéns Germano, que seu exemplo possa criar esperança para o futuro deste país. Atitudes como a sua de coragem e ativismo possam abrir os caminhos para uma outra realidade aonde palavras como respeito e tolerância façam sentido de fato.
Um brinde a Germano Marino e Dênis Puerta !!!
As fotos são de Marcos Vicentti
quinta-feira, 27 de março de 2008
um pouco de Cecília, silenciosa Cecília
Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabe que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade...
É a eternidade.
És tu.
Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu.
Não diga até onde és tu.
Não digas desde onde é Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa, completamente silencioso.
Até a glória de ficar silencioso,
Sem pensar.
( Cecília Meireles, Cânticos. Editora Moderna: São Paulo, 1991 .)
quarta-feira, 26 de março de 2008
terça-feira, 25 de março de 2008
"Ninguém poderá construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu. Só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o. "
Nietzsche
segunda-feira, 24 de março de 2008
A evolução de Deus
Jornal do Tocantins, 17/02/2008
por Dídimo Heleno Póvoa Aires
é advogado, membro das Academias Palmense e Tocantinense Maçônica de Letras
A Igreja Católica, como se sabe, é contra o aborto, contra pesquisas feitas com células-tronco, contra o sexo antes do casamento e contra o uso de camisinha nas relações sexuais. Ela também já foi contra a afirmação de que a Terra não era o centro do Universo, a favor da venda de indulgências e de transformar as pessoas em churrasco por conta de suas idéias consideradas hereges (Inquisição). É contra o casamento de padres e, pasmem, acredita que os camelos passarão por um buraco de agulha, mas os ricos não entrarão no Reino dos Céus. Sobre isso, muitos dizem que a Bíblia não deve ser interpretada literalmente, mas de forma alegórica e metafórica.
E o que dizer do velho Ló (Gênesis, 19, 7-8) que entregou suas duas filhas virgens para serem estupradas por vários homens? E quanto ao levita que esquartejou sua concubina em doze partes (Juízes, 19, 29), após ter sido esta estuprada durante uma noite inteira, com o seu consentimento? E quanto a Abraão, que decidiu matar seu filho Isaac a pedido de Deus apenas para provar sua fé e só não concretizou o ato porque esse mesmo Deus lhe disse que tudo não passava de brincadeirinha? E quanto ao povo comandado por Josué (Josué, 6, 21), que destruiu tudo pelo fio da espada, desde o homem até a mulher, desde o menino até o velho, e até o boi e o gado miúdo e o jumento, tudo isso por ordem de Deus? Todas essas passagens do Antigo Testamento também devem ser interpretadas alegoricamente? É preciso tanta crueldade para dizer que o mal existe?
Embora tudo isso pareça absurdo - e é - é preciso admitir e respeitar os que queiram se submeter a uma religião qualquer. O que não se pode permitir é que a Igreja imponha os seus conceitos arcaicos para toda a sociedade. As religiões, como sempre, querem ditar normas para a vida das pessoas, interferindo no seu modo de pensar e, até, comandar o seu costume sexual. Sexo é algo muito pessoal, até porque as pessoas utilizam o próprio corpo para praticá-lo. Quem quiser que decida o que fazer com o seu, desde que respeite a vontade do outro e não faça mal a ninguém.
Mas a Igreja, na cidade do Recife-PE, ingressou com ação na Justiça para impedir que a Prefeitura distribuísse a pílula do dia seguinte durante o carnaval. Essa é uma questão de saúde pública, como disse mais uma vez o ministro José Gomes Temporão. O sujeito faz sexo sem camisinha, obedecendo aos ditames da Igreja, correndo o risco de adquirir Aids ou uma doença venérea qualquer e a mulher não tem o direito de impedir uma gravidez indesejada, simplesmente porque uma religião decidiu, e não ela. Uma religião, aliás, que impede o padre de ter filhos ou sequer casar. Acho que desse assunto ela não entende.
É verdade que os criacionistas não admitem as idéias dos evolucionistas e vice-versa. Mas será que aquele Deus do Antigo Testamento também não evoluiu? Será que os homens de hoje não podem ter uma idéia melhor de Deus? E os ensinamentos que foram transmitidos por Jesus Cristo, que no dizer de Jack Milles é o próprio Deus arrependido? Será que Deus é contra o uso da camisinha, mesmo existindo Aids? O problema é que alguns fundamentalistas dizem que foi o próprio Deus quem inventou essa doença, para punir os "fornicadores". Desse jeito fica difícil argumentar com esses fanáticos da fé. Eles se esquecem que em Deuteronômio, o quinto livro da Bíblia, o Deus ali descrito até dita normas de higiene e proíbe o seu povo de comer carne de porco, para que evite contrair doenças. A camisinha, como a não ingestão de carne de porco naquela época, de igual forma evita enfermidades incuráveis. Acredito que Deus aprovaria o seu uso. Se Ele fosse contra o sexo não nos teria dotado de tesão. Se como quer a Igreja, o ato sexual fosse praticado apenas com fins reprodutivos, deveria ser algo insosso e não gostoso como é. Uma pergunta: não seria mais fácil para o Deus das religiões, sendo o Todo-Poderoso, acabar com as doenças e o pecado? Assim, não precisaríamos de camisinha e a prática do sexo seria admitida pela Igreja antes, durante e depois do casamento.
Como a religião não evolui, ela interpreta a Bíblia literalmente quando é de seu interesse e alegoricamente, quando lhe é conveniente. Como disse o físico Steven Weinberg, "... com ou sem ela [a religião], teríamos gente boa fazendo coisas boas e gente ruim fazendo coisas ruins. Mas, para que gente boa faça coisas ruins, é preciso a religião". Um exemplo disso se dá quando uma boa mulher deixa de tomar a pílula do dia seguinte por conta da religião e mantém uma gravidez indesejada. Outro, quando duas pessoas boas fazem sexo e não usam camisinha porque sua Igreja proíbe e, por conta disso, adquirem Aids e morrem na flor da idade. Se, como ensinou Charles Darwin, as espécies evoluem, é de se concluir que o pensamento também. Sendo assim, a idéia de Deus deve evoluir. Em pleno século XXI, não podemos deixar que aquele Senhor retrógrado, ciumento, cruel e misógino do Antigo Testamento continue comandando as nossas vidas. A idéia que devemos ter do Deus de hoje é outra. É preciso trazê-lo para a era da informática.
pelo Tibet
Sabemos que a China há décadas colocou o pacífico povo tibetano em seus domínios. Violando todos os seus direitos como nação, ferindo qualquer código ético e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, condição essencial para sediar as Olímpiadas.
Segue abaixo uma petição para o governo chinês e o link para um abaixo assinado em prol da libertação do Tibet
- Apóie o Dalai Lama
(via Para Ser Zen)
Petição para o Presidente Hu Jintao:
Nós cidadãos do mundo pedimos ao governo chinês que tenha cautela e respeito pelos direitos humanos em sua resposta aos protestos no Tibet. Esperamos que os assuntos que dizem respeito aos tibetanos sejam tratados por meio do diálogo com o Dalai Lama e não pelo uso da força. Somente o diálogo e uma reforma irão trazer uma estabilidade duradoura. O futuro promissor da China e sua relação positiva com o mundo dependem de um desenvolvimento harmonioso feito de diálogo e respeito.
Nossa fé perdurou
Reproduzo o trecho final da autobiografia do 14º Dalai Lama, Minha Terra e Meu Povo (Editora Palas Athena, São Paulo, 1988), em que ele relata seu breve reinado no Tibete ameaçado pela China, a invasão do exército chinês e sua fuga de três semanas através da Cordilheira do Himalaia até a Índia. Citando a contracapa, esta sombria história é contada sob inspiração de um meigo espírito de perdão revelado por um monge budista:
A despeito dos crimes atrozes que os chineses cometeram em nosso país, não tenho absolutamente ódio algum em meu coração contra o povo chinês. Creio que é uma das maldições e perigos da época atual censurar nações pelos crimes de indivíduos. Conheci muitos chineses admiráveis. Suspeito que não há, no mundo, ninguém mais encantador e civilizado que os melhores chineses, e ninguém mais cruel e perverso que os piores deles. As atrocidades no Tibete foram cometidas por chineses da mais baixa espécie, soldados e oficiais comunistas corrompidos pela consciência de disporem do poder de vida e morte. A maioria dos chineses ficaria amargamente envergonhada se soubesse desses feitos; mas, naturalmente, nada sabem a respeito. Não devemos procurar vingança contra aqueles que cometeram crimes contras nós, ou replicar seus crimes com outros crimes. Devemos refletir que, pela lei do Karma, eles correm o perigo de vidas mais baixas e miseráveis no futuro e que nosso dever para com eles, como para com todo ser humano, é ajudá-los a se elevarem até o Nirvana, não os deixando mergulhar nos níveis mais inferiores do renascimento. O comunismo chinês dura há doze anos (*); mas nossa fé perdurou durante 2500 anos e temos a promessa de Buda de que perdurará outro tanto, até ser renovada pela vinda de outro Buda.
Nesses dias de esmagador poder militar, todos os homens e mulheres podem viver apenas de esperança. Se mereceram a benção de lares e famílias pacíficas, esperam poder mantê-las e ver seus filhos crescerem felizes; e se perderam seus lares, como nós, sua necessidade de esperança e de fé é ainda maior. A esperança de todos os homens, em última análise, é simplesmente a de paz de espírito. Minha esperança repousa na coragem dos tibetanos e no amor à verdade e à justiça que ainda está no coração da raça humana; e minha fé é na compaixão do Buda.
do blog: " para ser zen"
domingo, 23 de março de 2008
A Arte
Do blog " Plantas que falam", de Rodox, o menino do dedo verde...
"Arte é uma força que nos liga uns aos outros, e aos homens do passado. A arte nos torna mais humanos - a melhor parte de ser humano. Compaixão. Curiosidade. Ousadia.A arte é uma linguagem única e universal.Mistério de unir individual e coletivo.O homem é separador de coisas. Tudo divide. Bom ou mau, homem ou mulher.As forças em desequilibrio geram alguns problemas.A arte é que pode unir. Equilibrar. Masculino e feminino.A arte. A meditação. Os rituais sagrados. O sexo.Cada dia não é apenas mais um dia. É uma oportunidade.Cada tarefa... cada barreira... enxergue como oportunidade. As dificuldades, como desafio. A ausência de dificuldades, como desafio a que apareçam.Sou eu um aprendiz, uma criança curiosa, maravilhado e grato frente a todas essas belezas inacreditáveis.Acordar vivo... é como ter sido convidado para uma festa. Muitos não tiveram essa sorte, morreram na noite anterior. Uma festa. Ouve os sinos? A música? Vê as bandeiras? As cores?Não se vai triste a uma festa.Não se vai sem levar um presenteDê um presente para o mundo............"
sexta-feira, 21 de março de 2008
quarta-feira, 19 de março de 2008
O moinho
_ O que você está olhando ?
_ ... nada, não estou olhando para nada. Esta música
_ O que tem a música ?
_ Me deu vontade de chorar
_ Mas isso é samba
mais um dois copos de vinho. Copo de extrato de tomate. Vinho da venda da esquina. Um suspiro.
_ Por que não me fala mais de você
_ Não tenho muito mais a falar
_ Quero saber tudo
_ Só sou o cara que conheceu na fila do supermercado
_ se incomoda se eu fumar ?
_ não
_ e se eu fumar maconha ?
_ não
_ e se eu te beijar agora ?
( ou se eu pular desta janela em direção a esta rua suja da Lapa ? )
_ por que esta música ?
_ por que não ?
_ ela me incomoda
_ quer dançar ?
Dançar
Tocou o ombro do desconhecido e o puxou mais para perto de si. Vinho tinto no chão. Estilhaço de copo. Cinza de baseado.
_ é que eu não sei dançar
_e o que você sabe fazer ? o que você faz de melhor ?
_Este samba é triste, samba antigo é triste_ Sabe...
_ o quê ? o quê eu sei ?
_ por que nunca aprendeu a dançar?
No canto da sala um empoeirado livro de sonetos, ao lado do velho rádio.
_ você ?
_ eu ?
_ quer me ensinar a dançar?
Mal começaste a conhecer a vida
já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar"
( cartola )
terça-feira, 18 de março de 2008
A Intolerância Nossa de Cada Dia
Por Maurício de Lara Galvão *
A intolerância é, em síntese, a falta de respeito pelas diferenças ou crenças de terceiros. Implica sempre na desqualificação de um outro que não compartilha dos mesmos ideais ou da mesma fé e culmina, não raramente, no seu rebaixamento a um status inferior ao humano, justificando, quando há interesse, perseguições e massacres de toda espécie. Esta atitude mental desrespeitosa é sumariamente exercida pela humanidade desde a aurora dos tempos, tendo o ódio às diferenças atingido preferencialmente os mais fracos, as minorias e os excluídos socialmente.
Cristo e seus apóstolos, enquanto apenas uma minoria, também foram perseguidos pelo dogmatismo dos sacerdotes judeus e autoridades pagãs. Nos primeiros séculos da cristandade, ser seguidor de Cristo era um passaporte para a tortura ou a morte. Cristãos chegaram a ser usados como combustíveis vivos para iluminar a cidade de Roma à noite, amarrados em postes públicos e incendiados, com o apoio da população e as bênçãos de Nero. Mais tarde, quando a situação se inverteu e o cristianismo tornou-se hegemônico, usaria dos mesmos métodos contra seus antigos perseguidores. Em nome da fé, cristãos zelosos também queimariam vivos - em madeira verde para que o suplício fosse prolongado - os primeiros protestantes (além das parteiras, que possuíam o conhecimento dos remédios e ervas naturais, dos ciganos, dos cátaros, dos albiginenses, etc.) e todo aquele sob suspeita de professar uma fé, conduta ou mesmo conhecimento diferenciado. A Igreja, evidentemente, lucrava muitíssimo com o seu monopólio sobre os corações e mentes.
O saber popular afirma que basta dar poder a um homem para conhecermos suas verdadeiras inclinações, isso porque não faltarão oportunidades para que ele abuse desse poder. Da mesma forma, uma instituição, quando se torna majoritária, tende a estabelecer e estender suas próprias regras como se fossem parâmetros universais. Quando correntes religiosas neo-pentecostais, cada vez mais hegemônicas, condenam abertamente o culto afro-brasileiro, o espiritismo, o catolicismo, o Daime e demais formas de religiosidade cristãs ou não, facultando aos seus adeptos o estigma de pertencerem às legiões do diabo, estão na verdade abrindo um precedente perigoso para o futuro da sociedade e de seus próprios filhos, uma vez que estes não reconhecerão mais no vizinho o próximo que adota livremente sua fé, mas o inimigo perigoso que cultua o demônio e dele obtém seus favores. As carnificinas religiosas, sempre movidas por interesses econômicos, se utilizam da fé mal esclarecida de seus adeptos para que vizinho possa matar o vizinho sem piedade, culpa ou dúvida, uma vez que se julga a serviço de Deus. Para quem não vê perigo nestas disposições, vou reproduzir um diálogo recente com um colega que orgulhosamente se julga fundamentalista, porque considera sua fé mais zelosa e verdadeira que as demais:
- Veja que absurdo, Maurício! Foi enviada uma missão de evangelização à Aldeia X e os índios não aceitaram Jesus!
- Amigo, eles têm a sua fé e cultuam o divino à maneira deles. Não prejudicam ninguém com isso. Além do mais, se você mexer demais em suas tradições, acabará por destruir esse povo.
- Não tem problema algum eles serem destruídos. O que importa é que suas almas cheguem ao céu.
Um céu desses, eu não quero nem de graça.
País que só é tolerante na propaganda de cerveja
O Brasil é um país plural. Recebemos contribuições de africanos, europeus, asiáticos e índios, formando um amálgama de crenças e soluções para os desafios cotidianos que poucos países podem se gabar de possuir dentro de suas fronteiras. Ainda assim, as estruturas de poder econômico e político sempre estiveram nas mãos de elites mais preocupadas com a manutenção de seus privilégios do que com a construção de um país melhor. Isso gerou um aprofundamento das desigualdades, onde os direitos e a cidadania tornaram-se privilégio de poucos. Assim, a identidade e o orgulho de “ser brasileiro”, na prática só funciona para o pobre quando ele vê a representação de seu país ganhar eventos esportivos. O cotidiano o exclui da lembrança de pertencimento a um povo pacífico e criativo e ele passa então a desacreditar na possibilidade de sua inclusão no meio social e na eficácia dos aparatos políticos. Citando as palavras da antropóloga Alba Zaluar, coordenadora do Núcleo de Pesquisas das Violências da Uerj:
“Se as poessoas não encontram nas esferas jurídicas e políticas as soluções para estes problemas, o medo e o sentido de iminente colapso da ordem e da vida social as fazem procurar na religião e na privacidade, mais próximas a elas, o refúgio familiar e restrito para essa ameaçadora bola de neve. Neste processo, elas podem encontrar uma nova prisão e um novo perigo de conflagração: o diabo identificado no próximo”.
Foi neste vácuo de identidade e representação social que os cultos neo-pentecostais encontraram campo fértil para seu florescimento no Brasil, mais propriamente em meados da década de 80. Formulado nos EUA, o Pentecostalismo coloca os evangelhos e a descida do Espírito Santo como foco central de sua doutrina, bem como qualifica as experiências de seus seguidores como similares às dos apóstolos, afastando-se do protestantismo histórico ou tradicional. Ao mesmo tempo em que resgata indivíduos em crise emocional ou financeira, facultando-lhes o sentimento positivo de dignidade e pertencimento a um grupo válido, absolve-os de transgressões passadas culpando uma entidade maligna cuja única função universal é enganar, matar e destruir: o diabo. Assim, o novo adepto, reformado, pode se desculpar perante o Divino e assumir uma nova identidade, porque a miséria de seus atos e transgressões passadas é atribuída às influências de entidades malignas que disputam com Deus os corações dos homens. “Aceitando Jesus” em seu coração, ele recupera a fé em si mesmo e no plano divino, recebe apoio grupal e passa a sentir-se em condições de se reformar, atuar e progredir socialmente onde antes encontrava sérias dificuldades. Até aí, perfeito. O problema começa – e apenas começa – quando o Diabo (que disputa com Deus os nossos corações) está na igreja vizinha. “Aceitar Jesus” passa então pela submissão do religioso à compreensão que determinada igreja ou pastor tem dos evangelhos. Daí por diante, inicia-se uma corrida bem mercantilista por fiéis e dízimos, onde a própria crença do outro passa a ser chamada de demoníaca. O demônio ganha imediatamente uma “cara”, ou seja, está intimamente ligado com os orixás e entidades do panteão afro-brasileiro, está também disfarçado na adoração à Virgem ou no uso de imagens de santos para a oração. Dentro desta lógica, o mal deixa de ser visualizado nas relações sociais perversas ou desiguais. Segundo Cecília Mariz, PHD em Sociologia da Religião pela Universidade de Boston (EUA),
“O demônio seria para os pentecostais uma arma potente tanto contra a prática simultânea de religiões distintas quanto a adoção de valores e práticas de outros grupos religiosos. Neste caso, os pentecostais não demonizam apenas o oprimido socialmente (como seria o caso das religiões afros), mas também o socialmente mais bem sucedido (como no caso dos adeptos da Nova Era).
Se as correntes fundamentalistas tendem a negligenciar e desqualificar a luta por direitos sociais e civis, por outro lado beneficíam a eterna guerra cósmica entre as forças do bem e do mal. Guerra que pode acabar no seu quintal, na sala de visitas ou mesmo na intimidade de seu quarto. Não faz muito tempo que milhares de mulheres muçulmanas Bósnias foram estupradas em série, dentro de suas casas, sob a justificativa nada piedosa de transformar as novas gerações, os filhos do estupro, em bons sérvios cristãos.
O que ainda não entendemos muito bem
O cristianismo é posterior ao Induísmo, ao Budismo, ao Zoroastrismo, ao Judaísmo, ao Taoísmo, e outras crenças ainda adotadas pela maior parte da humanidade. Crenças que ajudaram a edificar civilizações sofisticadas e aplicar na vida comum conceitos belos e necessários. O cristianismo é preferencialmente ocidental e sua mensagem é de tolerância, amor e respeito ao próximo. Apesar disso, em seu nome foram cometidos os maiores crimes e atrocidades contra a humanidade.
Jesus chocou-se frontalmente com as concepções religiosas obtusas de seus compatriotas e líderes. Causava escândalo, por que o próximo, na concepção judaica da época, era tão somente o próprio judeu. Quem não professava nos mínimos detalhes a fé judaica, não era considerado próximo, podendo ser vilipendiado à vontade. Jesus, que também era judeu, costumava chamar os sacerdotes da época - orgulhosos por conhecerem na ponta da língua os textos sagrados - de sepulcros caiados, magníficos nas vestes e nas palavras, mas podres por dentro. Instigava seus apóstolos e fiéis a apreciarem as diferenças e perdoar aos inimigos. Assim, exaltou a fé e a atitude de um centurião romano, justificou o bom samaritano - que era um herege da época -, apoiou os esforços de um desconhecido que queria curar sem pertencer ao seleto grupo dos discípulos: “não o proíbam. Quem não está contra nós, está do nosso lado” (Lc 9, 49-50). Por fim, impediu a condenação de uma prostituta e prometeu o paraíso a um marginal arrependido, momentos antes de expirar. Deixou-nos também recomendações claras a respeito das atitudes preconceituosas, mesmo que em nome da fé:
“Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”. (Mt 7:1-5)
“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz. (Tiago 4:11-12).
O que é isso ?
Uma homenagem a amiga Surama e ao amigo Andryo Amaral
Aguardo sugestões
( foto tirada por Rodox, o menino do dedo verde...)
Filmagem do documentário dos Katukinas, produzido por Nicole Algranti, no qual fiz a produção local. O filme foi muito interessante sobretudo por trabalhar com capacitação em audiovisual na aldeia. A equipe ficou em terras katukinas, no município de Cruzeiro do Sul/AC por volta de 15 dias. A experiência foi maravilhosa. Estar em terra indígena é sempre um presente, uma oportunidade para aprender muito.
Quando chegamos, qual não foi nossa surpresa a nos depararmos com uma aldeia cenografica construída pelos próprios indígenas. Queriam filmar como viviam antes do contato e, principalmente, antes da Br 364 que corta suas terras. Mudaram se para lá e viveram naquele set durante toda a filmagem. Naqueles 15 dias que passaram ali ficaram muito emocionados, pois, de certa maneira, viveram nos tapiris como os seus antepassados. Os mais velhos, como o saudoso curandeiro sr. Assis, buscou ensinar como se vivia antes, lembraram de histórias e músicas esquecidas, a força da tradição pulsou em seus corações.
Vivemos momentos muito fortes , a cerimônia do huni ( ayahuasca) foi incrível. De um lado equipamentos para gravação do CD e DVD , do outro, pajés antigos entoando seus cantos de cura. Também bebi uns dois copos do chá sagrado e quando me dei conta a miração chegou com toda sua força. Pela primeira vez a força das visões era tão fortes que não precisava nem fechar os olhos. Os pajés cantavam todos de uma só vez, cada um a sua canção de cura. Aquelas músicas ancestrais me levaram para longe, outras épocas, outros mundos. A aldeia foi ficando pequena, assim como a floresta que nos cercava. De repente, eu era infinito.
No fim da noite, quase amanhecendo, um pajé dos Katukinas do sete estrelas , fazia sua pajelança em minha cabeça e vimos o sol nascer, com sua luz de renovação.
segunda-feira, 17 de março de 2008
a chuva e o trem
já não passam trens
mesmo assim convido D para ir comigo fugir do mundo
apesar da chuva, não pensei em cogumelos
longe ouço o barulho de alguma igreja
não converso sobre Deus com D
nem sobre quase nada
apenas nos embriagamos de silêncio
viramos fumaça
a estação abandonada, palco de nossos sonhos
um segundo e entro no mundo das imagens
e pensar que um dia os viajantes por ali eram outros
não falamos muito, quase nada
somente os trilhos abandonados e cheios de mato
- gosto de dente de leão
principalmente quando seus dentes voam no final de tarde -
flores vagabundas são as melhores que tem
D me falou sobre disco voadores
quase travamos um dialogo
mas nos calamos olhando para o céu
existem almas que se compreendem sem palavras
almas que olham o céu juntas
almas abduzidas por naves alienígenas
Sabia que D queria fumar
mas naquele dia chuvoso preferiu respirar fundo
se aninhar em meus pensamentos
e sacudir a nostalgia
já não passam mais trens
os vagões enferrujam e os vagabundos circulam
por entre os trilhos um cachorro vira lata
a vontade louca de cantar algo antigo
o som da respiração
juntamos nossos sonhos
seguimos pelos ferros retorcidos
e mais uma vez ousamos acreditar
a estação foi ficando longe
nossas almas também
a chuva insistente molhando nossos olhos
foi então que viramos chuva
Um
passam lentas as horas
eu aqui, pensando em você. Nós
dois na (im)possibilidade do Um
Corpos fundidos no Um
Agora o Um dividido repartido
o Um quebrado perdido
o Um desfeito em Um milhão
de cacos espalhados por aí
O um que já não é mais
Fragmentos do Um
Passam lentas as horas
Eu aqui, pensando em você. Nós
Dois na ( im ) possibilidade do Um
(para A...)
pensamento no deserto
não sei de quem é o autor, mas vale a pena refletir...
" são muitos os caminhos que Deus pode nos conduzir á solidão e levar nos a nós mesmos."
oceano Eu
Neste azul
Silencio todas as ondas do meu ser
Profundo azul
oceano Eu
No fundo
Fundo azul
A paz, a calmaria
O silêncio
oceano Eu
Na superfície
As ondas rebentação
Mergulho fundo
Fundo azul
oceano Eu
No azul dissolvo as ondas
No profundo mergulho
Encontro o azul
Perdido
Silencioso
ocano Eu
domingo, 16 de março de 2008
Valparaíso - para minha cidade natal...
Escrever sobre Valparaíso !!!
Pudesse eu afastar o morador, aquele que cresceu em suas terras e falar sobre Valparaíso com o olhar forasteiro, talvez aí pudesse ser menos nostálgico e mais objetivo. Impossível.
Escolhi escrever em primeira pessoa, com o coração do jovem que nasceu nestas terras e carrega pra onde quer que vá esta mansidão interiorana, esta alma de fazendas e charretes na rua. Não acredito ter a maturidade necessária para escrever sobre os 70 anos de Valparaíso, arrisco algumas linhas, ousadia de minha parte, de refletir livremente minha cidade. Buscando o olhar de quem está de longe, do outro lado do Brasil,nunca o olhar forasteiro.
Quando penso em Valparaíso, a primeira coisa que me vem em mente são os amigos. Os grandes amigos. A cidade, talvez pelo seu tamanho, é propícia a grande amizades, destas de se levar pra vida inteira. Sempre que penso em amigos, penso nos amigos Valparaisenses, mesmo tendo conquistado amigos por este mundo a fora. Mas os amigos de infância são como irmãos, existe aquela identificação de origem, pois mesmo estando espalhados por aí, quando nos encontramos fazemos parte desta mesma terra natal, deste mesmo chão. Olha que eu sou jovem ainda, imagino os amigos de décadas, quase um século, os filhos dos primeiros aventureiros a chegarem por estas terras, aqueles tropeiros exploradores. Fazendeiros do café e seus empregados vindos do Brasil todo. Geração pós geração se encontrando , se perdendo e se reencontrando.
Em minhas épocas, a celebração da amizade era concretizada nos deliciosos bailes do falecido ( com muito pesar ! ) Valparaíso Clube. Quem não se lembra dos bailes do Havaí e no final da festa, entre melancias e laranjas, o banho coletivo e tradicional nas piscina do clube. O traje florido: camiseta estampada e bermuda branca para os homens e vestidinhos florais para as mulheres.
Os caranavais, então ? Devia ser um dos melhores da região. Ao som das marchinhas, foliões multicores desfilavam suas fantasias e distribuíam suas alegrias. Não posso esquecer do Tio Du, ainda não tinha idade para entrar nos bailes carnavalescos noturnos, era apenas um folião mirim aproveitando as matinês de domingo, mas passava a noite vendo sua transformação, tamanha a produção e originalidade de suas vestes. Não dá pra esquecer quando se vestiu de Natasha, a vampira da novela Vamp e entrou dentro de um caixão no meio do salão. Promovendo um estranhamento e uma explosão de risos. Ou quando foi de Michael Jackon e Perpétua. Tempos bons, representava naqueles personagens uma época boa, um momento que perdeu lugar para um posto de gazolina e uma cacofonia de sons. Leonardo e Calipso. Raul Seixas e Dire Street. preciso confessar: acho que de certa maneira Valparaíso encaretou.
Agora permito a imaginação fluir solta e ir para um tempo antes de meu nascimento. Dou vida em minha mente, em minhas memórias da fantasia, ás festas na roça, aos arrastapés nas fazendas de café, sob a luz bruxuleante dos lampiões. Quantas famílias inteiras não nasceram dali. Ao som da sanfona e a poesia simples e direta das modas de viola. Tempo de carro de boi e rua de chão. Tempo de cachaça e de café. Penso nas festas de Junho. Viva São João e Santo Antõnio !!! As fogueiras queimando e o menino nascido de improviso em sua casa no Aguapeí subindo o pau de sebo, montando bezerro bravo, corrrendo atras de passarinhos nas sobras de mata por ali.
Por falar em festa, como não pensar nas festas do peão. Tradição vinda junto com a pecuaria e que devagarzinho foi se transformando até os rodeios, a moda de viola cedendo lugar ao sertanejo e as bonitas moças vestidas de bota cano longo e os rapazes de chapéu cowboy americano. Aonde está o chapéu de palha do japonês da horta ? do peão em cima do boi ? Do lavrador em sua roça de melancia ?
O rodeio se afirma como manifestação cultural, cria toda uma geração de jovens cowboys de calça wrangler e marlboro na boca. A economia pecuaria se afirma na cidade enquanto o café declina. O rodeio torna se a grande festa popular, aonde toda a sociedade se reúne em barraquinhas de churrasquinho, deliciosos por sinal, encontra se o mineiro vindo de fora e o fazendeiro, a empregada doméstica e a dona da loja. A manifestação da economia da cidade em forma de festa. Festa pelo menos para os humanos, não diria o mesmo em relação aos bois. Ironia minha.
Não poderia deixar aqui de fazer minha homenagem aos queridos loucos transeuntes destas ruas, figuras quase míticas que acompanharam minha infância e tenho certeza a de muitos outros Valparaisenses. Quem não se lembra do Vartão, praguejando pelo jardim, triste mesmo foi sua morte, mas deixa isso pra lá. Ou do Miro, ou da Tereza doida ? Figuras que desafiavam nosso cotidiano de bancos e trabalhos e nos remetiam a um univeros quase lúdico. Uma performance puramente humana nos acordando para outras dimensões da nossa existência.
Ainda dentro destas memórias lúdicas, lembro do Profeta Gentileza, nascido em Mirandópolis, mas com grande parte da família por aqui. José Datrino o profeta de longas barbas brancas que muitas vezes fazia suas pregações na linha do trem ou no jardim municipal. Espalhando sua máxima brasil a fora, inclusive valparaíso: Gentileza gera gentileza. Uma vez, devia ter meus 5 ou 4 aninhos, ía solitário para casa de minha vó quando deparei com aquela figura mágica, quase sobrenatural, primeiro a emoção depois o grande susto. Abri o bocão chorando. Choro sincero de criança. Era tempos de Roque Santeiro, a novela estava no ar fazendo grande sucesso, quem não se lembra do Beato Salú. Para mim era ele ali na minha frente, em carne e osso. Perâmbulando por Valparaíso.
Nada me fascinava mais do que os palhaços da folia de reis. Falavam rimado e dançavam em passos compassados, antigos, misteriosos. Lembro das folias de maneira poética, nas casas levando sua tradição, sua música e magia. Tradição esta que foi se dissolvendo durante o tempo. Há poucos anos atras encontrei na Vila Yube um grupo de folia, que tentava reviver seus momentos áureos lutando contra o crescento desinteresse dos filhos daqueles que um dia se enchiam de magia, da própria desmotivação e baixo estima dos integrantes e da total falta de apoio político-cultural. O palhaço, porém resiste, cumprindo sua missão sagrada. O clown é aquele ser isento de regras, o único que pode dizer o que bem entende, pois por ser palhaço está liberto de qualquer condição social. De regras e etiquetas.
Por falar em palhaços...os circos que passaram em terras Valparaisenses: circo do Bira, Meloso e tantos outros. contribuindo para a formação criativa de tantos jovens.. Os melodramas após a apresentação no picadeiro. Sempre uma história trágica e tão brasileira, ou o show de música sertaneja. A emoção do globo da morte ou os famintos leões em apresentações patéticas e incríveis. O circo era o meu momento de escapismo. O momento em que a arte na sua forma popular e autêntica se derramava nas ruas de Valparaíso. " Hoje tem marmelada, hoje tem palhaçada o circo chegou ".
Depois do circo as Usinas. A era da cana de açucar. O Alcool. Economia crescente que hoje toma conta da região. Trazendo um certo ar de otimismo esprimido entre duas penitenciarias. A paisagem mudou muito, os arredores da cidade um tapete verde sem fim. Uma chuva de cinzas durante as queimadas. Por falar em quimadas, um espetáculo de transmutação da paisagem. A monocultura canavieira e a promessa de rendas para a cidade. Novas indústrias mudando aos poucos o tamanho e o jeito de se viver na cidade. O progresso chegando, não tenho certeza se de maneira sustentável, mas chegndo e marcando presença. Novos moradores trazendo sua contribuição e tentando se enconntrar em uma sociedade de grandes famílias e grandes amigos. Novos tempos se instalando.
O impacto polêmico das penitenciarias, não seria justo não tocar neste assunto, pois talvez seja uma das grandes mudanças nestes últimos 70 anos. Os finais de semana em que a cidade dobra de tamanho, triplica devido aos parentes dos presos. O crescimento na economia da cidade: hotéis e restaurantes e a insegurança dos mais conservadores. Assunto este que merece estudo e calma pra se refletir e escrever.
A problemática das drogas, o crack chegando de mansinho e ameaçando nossa juventude. Juventude esta encurralada e sem opção cultural e de lazer. Nunca soube que posto de gazolina e avenida trouxesse crescimento intelectual e cultural para ninguém. Nossa história se perdendo nas ruínas mal cuidadas da estação de trem repleta de mendigos dorminhocos. Estação pela qual chegaram e partiram nossos conterrâneos. Sinônimo de progresso no passado, hoje um cemitério ferroviário.Lugar em potencial para um centro cultural verdadeiro, um pouco complicado aonde cultura é associada a rodeios apenas.
Nosso jardim, de palmeiras vendidas. Palmeiras do inicio da cidade leiloadas, nossa história de todas as maneiras indo embora. Nosso jardim de mandacaru exótico cortado e por sorte, contemporânea arte em seus muros quase querendo nos alertar: é disso que precisamos - ARTE.
Fico por aqui. Mergulhado em saudosismo. Um saudosismo de antes de eu nascer. Pensando nos guerreiros japoneses assombrando seus conterrâneos. Nos migrantes italianos e mineiros trablhando nas lavouras. Nos namoros na praça e nas saídas das missas. Nos grandes homens e mulheres nascidos nestas terras. Nos irmãos valparaisenses espalhados por este mundo. Nesta jovem cidade tão velha.
O Acre Forasteiro
Quem chega de fora, assim como eu, leva um susto, tanta informação e tanto fascínio que este Estado guarda. O melhor é tentar chegar vazio, sem muitas idéias ou opiniões preconcebidas, pois certamente o Acre lhe frustrará. O melhor é absorver esta rica cultura do jeito que ela se apresenta e de vagarzinho ir entendendo esta terra incrível. Se despir de conceitos e teorias. Ir depressa demais pode causar indigestão.
Por trabalhar com vídeos, tive a oportunidade de conhecer pedaços muito especiais desta terra, assim como moradores da floresta com uma paz de espírito e grandeza de caráter de fazer vergonha, a nós, cheios de cidade. Conhecer os interiores do Acre, os diferentes Acres dentro do Acre, despertou em meu coração a imensidão deste pequeno Estado.
Enquanto escrevo, imagens e lembranças de diferentes viagens por Rios Acreanos inundam minhas memórias. Purus, Muru, Acre, Juruá. Mandins ensopado com água barrenta e os causos do navegante “seo” Minoca. Ayahuasca numa praia do Purus sob um céu cheio de estrelas. Os lagos do Juruá e a água preta do Croa. A forte ribeirinha Maria Inês reclamando que já não há mais peixe como antigamente e o interminável jogo de dominó a caminho dos Kaxinawas do Humaitá.
Navegar em um batelão é entrar em outro ritmo, em outro tempo. Somente a água e o barulho incansável do motor. A paisagem: floresta e campo, samaúma e gado. O batelão sempre sossegado, desliza. A mente então se acalma, boas idéias chegam com o bom ar. Bem verdade que não foi assim ano passado no Purus, a floresta em chamas, o ar fumaça. Mas esta é outra história.
Numa noite de lua, no alto Juruá, em terras ashaninkas, bebi junto com o pajé Moisés o Kamarãpi ( outro nome para o daime), não tinha nem um ano de Acre ainda. Estávamos na varanda de sua casa, com vista para o rio Amônea. Primeiro, um longo momento de silêncio enquanto o pajé fumava seu cachimbo. Sereno.
Senti meu coração se expandir e se conectar com toda a floresta. Imensa floresta. Besteira tentar descrever aqui qualquer sensação a mais. Então, o pajé se levantou e foi até a beira do alto barranco do rio Amônea. Quebrou o silêncio com uma forte cantoria em língua tão antiga e misteriosa. Meu corpo se arrepiou. Alguma coisa estava acontecendo.
Nestes momentos a gente quer explicações, quer decifrar mistérios através da mente racional e nos deparamos com um delicioso ponto de interrogação. A própria manifestação da magia, a própria voz da floresta. Só me restou calar e ouvir os cantos. Só me restou sossegar a alma e me entregar para a magia.
Foi quando o pajé me chamou, fui pra perto dele e sob o rio Amônea, entre uma densa neblina estava uma espécie de arco de energia. Ele deu uma risadinha e falou : “ Fui eu que fiz”. Busquei em minha mente todas as explicações racionais para aquilo que via, simplesmente aceitar a magia é complicado demais. O arco, então, sumiu.
Ele me olhou e riu de novo: “ Vou cantar pra ele aparecer”. Recomeçou a cantoria e o arco voltou. Foi quando de repente me dei conta, olhei em volta de mim: o rio, a floresta, o Moisés e sua Kusma, a cantoria. Um misto de alegria e medo, fascínio e curiosidade. Me dei conta:
“ Meu deus, estou na Amazônia, no Acre.”
Naquele momento, soube que não sairia daqui tão cedo. Soube que tenho muito a conhecer por aqui, muito mais a ouvir do que falar, muito mais aprender do que ensinar. Qualquer primeira impressão sobre Acre será sempre superficial, pois as raízes deste estado estão plantadas sob um solo ancestral e profundo. Sob uma cultura que mesmo sendo muito saqueada permanece viva e se recria sempre. Um estado que se ergueu sob sangue e coragem de milhões de anônimos que vieram pra estas terras em busca de riqueza e sonhos e dela nunca mais saíram. Anônimos que tiveram suas aldeias e terras pilhadas, mas que hoje suas jovens lideranças buscam reafirmar suas culturas e batem no peito com orgulho: “sou índio, sou seringueiro.”
Um texto Ateu
Este eu recebi em meu e - mail. Provocativo.
Para se pensar...
Um texto Ateu
"1 - Não diria que sou ateu,nem agnóstico. Apenas isso:Deus não me importa. O que me importa é o planeta e os habitantes da terra-os seres humanos inclusive,mas não apenas.
2 - Dito isso,é interessante lembrar que aqueles que acreditam em Deus não são citados pela história como seres humanos pacificos,tolerantes e bondosos.Muito ao contrário:sempre que surge uma idade da fé,a morte se espalha pelo mundo.A guerra Santa é uma criação dos teístas-Judeus,cristãos,islamitas,comunistas-e não dos ateus:ateus não costumam fazer guerras santas.
3 - Quando afirmo que Deus não me importa,não nego de forma alguma a existência do Invisível.Não diria que sou materialista.O que reafirmo é que não existe qualquer ligação entre uma possível divindade ou a religião e o Invisível que nos cerca e que não conhecemos ainda.Não diria,por exemplo,que as fadas são cristãs.Ou que os átomos são judeus.Ou que a kundalini é islamita ou,quem sabe budista.Ou seja:o Invisível existe,mas não há nele nada de religioso.Pretender associar o Invisível ao religioso é repetir um comportamento pré-histórico.Feliz ou infelizmente,estamos no final do seculo 20.
4 - Ao contrário do que pretende os teístas,a história fala de ateus pacíficos,grandes estudiosos e amantes da humanidade.E mostra que os crentes perceguiram,prenderam,torturaram e mataram milhões de pessoas,em todo o mundo e em todas as épocas.Pergunta-se:a religiosidade e a crença em Deus torna os seres humanos mais pacíficos,justos e tolerantes?
5 - Nos paíse onde o Estado e a Igreja não se separaram -como o Brasil e toda a América Latina -os politicos chegam ao poder ou lá permanecem quando se mstram piedosos ,quando contrubuem para instituições de caridade e, especialmente, quando se afirmam tementes a Deus. Ora, a história tambem mostra que o administrador ou político teísta não é necessariamente melhor do que aquele que não crê. Pode-se perfeitamente crer em Deus e ser um péssimo político,um corrupto, um autoritário. Mas é verdade que se tem mais espaço,mais poder e conquista-se mais simpatia quando se é teísta.E,em países de mentalidade medieval como o Brasil,ganha-se até mais votos. No sacro Império Brasileiro é preciso ter boas relações com a Igreja (e com Deus) para se politicamente vitorioso.
6 - Alguem pode ingenuamente dizer que países comunistas não são religiosos e,ainda assim,fizeram e fazem perseguições contra aqueles que discordam de suas regras.Eu responderia afirmando que a União Soviética nunca deixou de ser religiosa:é que lá a religião mudou de endereço e o Estado substituiu a Igreja.Exemplo disso é o que o comunismo adotou o "culto da personalidade" e mantém a múmia do santo Lenin em Moscou,para ser
devidamente adorada.O comunismo é tão religioso que está cheio de dogmas.E,até prova em contrário,não existem dogmas para os ateus:o dogmatismo é uma das características básicas de toda religiosidade.
7 - O fanatismo é outra característica daqueles que têm fé e não dos ateus.
8 - Afirmo que a crença em Deus é interesseira.Ora,quem acreditaria em Deus se essa crença não lhe fosse útil?Todas as religiões dizem algo que pode ser resumido assim:"Comporte-se bem agora e mais tarde sua recompensa virá em dobro".Pergunto:por que tratar com reverência uma divindade que trabalha com juros?Os banqueiros também trabalham dessa forma e não são bem vistos.
9 - Um argumento muito utilizado pelos teístas-especialmente aqueles que pretendem participar da Era de Aquário-é a afirmação de que a religião é a forma pela qual o homem se "religa"com a divindade superior.Ora,a palavra religião,originalmente não tem qualquer relação com religar:"religo"é o culto prestado aos deuses, religo é ligar, atar. Os teístas,s abiamente,quiseram unir os dois conceitos. Têm todo o direito,é claro.Mas estão enganados.
10 -Estamos nos preocupando há milênios-toda a Era de Peixes,no minimo - com um Deus único,misto de general, juiz e censor. O resultado ai está, à nossa volta: alguns religiosos afirmam conhecer a vontade divina nos seus minimos detalhes e exigem ser ouvidos, por bem ou por mal. Enquanto isso, não conhecemos o bastante a nós mesmos e essa ignorância tem causados sofrimentos terriveis a toda humanidade. Proposta:que no próximo século a humanidade cuide da humanidade e tente se conhecer mais profundamente. E que Deus permaneça por um tempo no almoxarifado das crenças,preconceitos e medos humanos.
11 - A fé não quer evolução,a liberdade e o companherismo entre os homens. A fé é reacionária:os fiéis pretendem conhecer a resposta para todas as dúvidas que temos na vida. A utopia não:quer a fantasia,busca as respostas,as possibilidades. O utópico quer um tempo novo e busca criar condições para que este tempo surja,agora ou no futuro.
12 - O homem não é o centro do sistema solar ou do Universo e não interessa se existe qualquer divindade olhando por nós.A questão é uma só: reduzir o homem a sua minima grandeza. "