domingo, 11 de maio de 2008

TrANQUEDO

O menino deslizou por entre o barro
Um dia de verão, sem fumaça e com um pouco de chuva
Enlameado, entregou - se ao barro de Nanã
Que por um instante
Não se sabia o que era menino
O que era terra molhada

Nenhuma pipa no céu
pois cinza está o céu e chove
chuva fina, rala
que molha dentro de D Chaguinha
entre as onze horas nos vasos de garrafa pet
graciosamente pendurados na janela de madeira
Olhos verdes e chuvosos
Dos tempos de um seringal que não volta mais

Ruelas de terra molhada
por onde caminha o quase pedreiro
passos ligeiros,curtos,obstinados
As notas apertadas entre os dedos
na esperança de um boqueiro
- depois da esquina, depois da lama -
para satisfazer lhe o desejo
do corpo e da mente
nunca da alma, eterna e livre
um pouco mais de tormento
e a clpra depois entre cimento
tijolos e a lembrança da mãe
com olhos indígenas
pele indígena
coração ancestral

Outro menino a lambuzar-se na lama
mais outro e outro
e a tarde vira uma festa
até mesmo no coração molhado de D Chaguinha
Pingos d´àgua no telhado brasilit
e pelas folhas dos açaizaeiros
o menino quase pedreiro
volta de passos ainda mais ligeiros
com a certeza de seu ópio
entre os dedos amarelos
e a mão calejada de cimentos e sonhos

uma tarde de chuva fina, rala

tranquedo

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