quinta-feira, 1 de maio de 2008

Diário de Bordo Festcine Amazônia - A Caminho de Cusco

Por Ismael Pinheiro

AMIGOS,

Janaína se aproxima e diz: pelo menos o céu está lindo. Olho para cima e não deixo de admitir. Ali estão todas aquelas estrelas que em livros de geografia tinham aqueles desenhos representados, dos quais eu nunca consegui realmente ver o sentido. A não ser uma panela, que eu desenhava mentalmente.

Mas o céu estava lindo.

Baixo o olhar e vejo seu Geraldo, o motorista, embaixo da van. É o quarto problema só esta noite. Eu ainda não saberia,mas o próximo faria com que a equipe pela segunda vez passasse a noite na carretera peruana.

Estamos exaustos, com frio, sujos e com sono.

Um pouco atrás:

Marcapata impressionou pelas nuvens que nos atravessam, pela hospitalidade do povo, pela comida duvidosa e pelo frio intenso.

Mas Cusco ficará na lembrança. É uma cidade cosmopolita, que une o tradicional e o moderno. Tem gente bonita de todos os tipos e lugares. Suas ruas pequenas encantam. Me apaixonei.

Chegamos e ficamos hospedados no hotel de um holandês que cobra até pela água da recepção.

Logo resolvi dar umas bandas pela cidade. Sobe aqui, desce ali, me perco por aquelas ruas estreitas. Onde estou? Vejo um bondinho desses que fazem trajetos turísticos e pago o mico. Subo e vou conhecer a cidade dessa forma. É uma hora de viagem. Vejo o estádio do Cienciano e lembro que leo pediu uma camisa deles, mas não vou poder levar.

A guia explica o que vemos, mas eu não presto atenção a ela, mirando outras paragens mentais. Subimos ao topo da cidade. É onde compro um xadrez inca (toma-te mika). Chique.

Aliás, falar em chique, almoçamos num restaurante digno de Amaury Jr, que se me visse brindando a taça de vinho com dona Marli, mãe de Levy, certamente me entrevistaria. Pareço algo como o omar shariff, com meu bigode e cavanhaque. No prato, llhama e alpaca, e um peixe ótimo chamado cheviche.

E a noite de Cusco?

Bom, que michelle não me ouça,mas durante três horas fiquei perdidamente apaixonado por uma cantora negra chamada sheyla, que canta blues, reggae, soul. Estamos num bar chamado Roots, eu e Sergio, um figuraça. Havíamos jantado num bar pequeno, como todos, e aconchegante, como todos. A decoração misturava instrumentos e equipamentos antigos na parede. Coisas como saxes, foles, acordeãos.

Todos resolveram voltar ao hotel. Eu e sergio fomos desbravar a noite. Primeira parada: um bar com uma banda de cabeludos tocando metallica. Não estou muito testosterona essa noite, para encarar com agrado aquilo. E tenho a impressão que o vocalista desafina.

Menos de meia hora depois estamos na rua. Vamos ao roots. É um bar meio reggae. O povo lá me parece mais interessante a primeira vista. Me sinto em casa.

Sheyla, a negra li, a dani sá do peru, está por ali, bebericando algo que me dá curiosidade em saber o que é. Eu e sergio nos abalconamos e quase caímos pra trás com o preço da cerveja: dez soles. Puta madre!!

Sheyla começa a testar o equipamento. A banda improvisa, ela vocalisa e vez em quando dá uma dançadinha. Eu e sergio babamos. Então começa. vejam bem amigos: ela emenda uma versão poderosíssima de Come Together, dos Beatles e emenda com Rehab, de Amy Winehouse. Nesse momento, já estou mentalmente ajoelhado beijando os pés dela e dizendo: venha deusa inca!!!

De manhã partimos para Machu Pichu. Metade da turma tá estropiada. Jurandir bateu no hospital, Golda quase desmaiou duas vezes, delano e neguinho tb. Eu estou acometido de um desarranjo terrível. E por aí vai.

Querem saber? Sinceramente?

Machu Pichu é programa de índio. No mau sentido. Tudo muito organizadinho, burocrático,caro, cheio de japonês. E onde tem japonês...

É claro que a paisagem deslumbra. Deito na grama à sombra e fico pensando nos erros e acertos da vida, olhando as montanhas.

Tb não dá para deixar de pensar que esses incas consumiram muita folha de coca para ter a idéia de subir esse morro e construir esse troço maluco aqui em cima. O roteiro dura duas horas. Há uma viagem de trem muito bacana e uma parada no vilarejo de machu pichu, que é muito bonito.

E comércio artesanal pra tudo quanto é lado.

A volta de cusco é complicada. Como os dois carros pregaram e ficaram em marcapata, voltamos de táxi e de uma van alugada. Só que a van é conduzida pelo mesmo figura que quase nos mata da vez anterior. E quase faz isso novamente ao derrapar à beira do precipício.

Levy vai à loucura.

Foi uma noite péssima. O frio absurdo, eu um pouco febril. Todos cansados e com algum tipo de problema. Chegamos em Marcapata, apenas para trocar de carro.

Seguimos viagem pela cordilheira. É uma viagem difícil,com a van trôpega e guerreira.

Como eu disse antes. A equipe acaba tendo que ficar dormindo na estrada.

Queremos chegar, queremos partir.

Quando atravessamos a balsa de porto maldonado nos parece que estamos a ponto de desabar. Todos estão no limite.

Na barreira peru brasil, policiais corruptos ainda esfolam o bolso de levy para dar o carimbo de saída. Entramos no acre. Dormimos em assis brasil. De manhã café da manhã brasileiro, com direito a tapioca. Delícia.

Em brasiléia almoçamos numa churrascaria. Feijão. Feijão, feijão.
Na caminhonete Levy liga o rádio e Zé Ramalho canta chão de giz. “No mais estou indo embora”. Bate uma emoção estranha.


Chegamos em porto velho conscientes da missão cumprida. Com perdas e ganhos, dores e contentamentos. Recomeços virão. Sempre virão.

Vejo meu filho dormindo, deito ao lado dele e o abraço. Desmaio em seguida.

Resta Belém. Sempre Belém.

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