sexta-feira, 23 de maio de 2008

O salmo na Umbanda !!!


Oxalá é meu Pastor, nada me faltará
Deitar-me faz nos verdes campos de Oxossi
Guia-me Pai Ogum mansamente nas águas tranquilas de Nanã Buruquê
Refrigera minha alma Pai Abaluaê
Guia-me mãe Oyá pelas veredas da justiça de Pai Xangô
E ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte de Omulú
não temerei mal algum, porque Zambi está comigo
Pois o cajado de Oxalá é meu guia na direita e na esquerda
Me consola mamãe Oxum
Prepara uma mesa cheia de vida para mim, oh mãe Iemanjá
Exú e Pombo gira afaste de mim os inimigos da caminhada
Unge a minha coroa com o óleo consagrado de Olorum
E o meu cálice que é meu coração transborde com a pureza de Ibejada
E certamente, a bondade e a misericórdia de Oxalá estaram comigo por todos os dias de minha vida!".

terça-feira, 20 de maio de 2008

O Girassol

Por entre as mãos, carrega um girassol, impossível de imaginar ele a carregar um girassol. Talvez um baseado ou mesmo um livro pessimista. Nunca um girassol.
Se aproxima com o mesmo andar pesado, desajeitado, do dia que eu o conheci. Há quanto tempo isso , meu Deus ?! Tatuagem mal feita no ombro, um índio sem cores, a não ser a cor morena da pele a preencher a face do desenho.
Mas, onde diabos tinha arrumado áquela flor ?
Penso melhor, o girassol até que combina com ele: grande, desengonçado, radiante. O que não combina com é o fato dele estar segurando uma flor, definitivamente, ele não combina com flores. Cactos talvez. Se quiser, ele me explica, aquieto a curiosidade.
Continua a caminhar em minha direção, será que vai me dar o girassol ? Quase ri do absurdo que penso. Não é do feitio dele dar presentes, ainda mais uma flor. Melhor não rir, detesta que riem de sua cara, não que eu fosse rir de sua cara, mas sim, do inusitado. Por que ele é tão bravo ? Ranzinza ? É assim desde que eu o conheci, há tanto tempo. Mas ele consegue rir de coisas tão banais que eu não entendo. Quem sabe , envelheci...
Se ainda estivesse segurando um martelo para martelar qualquer coisa, um butijão de gás para substituir o da cozinha que está quase no fim, um garrafão de água. Não, ele - insistentemente - carrega um girassol.
Poderia ser um presente, mas quem, conhecendo - o daria lhe um girassol ? Poderiam lhe presentear com uma camiseta nova - que ele está precisando - , um perfume, até mesmo um gato. Definitivamente, não um girassol.
Passa por mim sem me olhar, detesto quando ele faz isso, com o olhar em qualquer outro canto do universo. Vai em direção a cozinha. O segui com o olhar até onde foi possível. Por que Van Gogh também pintou girassóis ?
Ele volta sem girassol, segue seu destino em direção a varanda aonde persiste em terminar de pintar o muro. Lembro do dia que nos conhecemos e das coisas que passamos para estarmos , finalmente, juntos. Nosso maior campo de batalha foi os nossos corações permeada por nossas diferenças que tanto nos atraiu.
Vou até a cozinha. O girassol, incrivelmente amarelo, está lá. Numa jarra de vidro com água. Na geladeira , um bilhete escrito rápido, de caligrafia ainda mais rápida:

" Girassóis sempre buscam o sol"

enquanto chove

Enquanto chove
Pensamentos solares iluminam os olhos
iluminam o que deveria ser luz

caio quieto
em minha poltrona de colcha azul
o livro velho entre meus joelhos
as gotas na roseira já sem flores

chove pouco, mas chove
procuro pelo sol nas nuvens da mente
tudo inunda dentro
dentro de mim

sou agora alagação
tempo fechado cinza
chuva grossa tempestade
procela chumbo , inundado

e a certeza que escondido
por detrás das nuvens negras
brilha o sol

domingo, 11 de maio de 2008

Homenagem ao dia das Mães

Por Kalil Gibran
in: O Profeta

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos.
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar
nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles,
mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.

TrANQUEDO

O menino deslizou por entre o barro
Um dia de verão, sem fumaça e com um pouco de chuva
Enlameado, entregou - se ao barro de Nanã
Que por um instante
Não se sabia o que era menino
O que era terra molhada

Nenhuma pipa no céu
pois cinza está o céu e chove
chuva fina, rala
que molha dentro de D Chaguinha
entre as onze horas nos vasos de garrafa pet
graciosamente pendurados na janela de madeira
Olhos verdes e chuvosos
Dos tempos de um seringal que não volta mais

Ruelas de terra molhada
por onde caminha o quase pedreiro
passos ligeiros,curtos,obstinados
As notas apertadas entre os dedos
na esperança de um boqueiro
- depois da esquina, depois da lama -
para satisfazer lhe o desejo
do corpo e da mente
nunca da alma, eterna e livre
um pouco mais de tormento
e a clpra depois entre cimento
tijolos e a lembrança da mãe
com olhos indígenas
pele indígena
coração ancestral

Outro menino a lambuzar-se na lama
mais outro e outro
e a tarde vira uma festa
até mesmo no coração molhado de D Chaguinha
Pingos d´àgua no telhado brasilit
e pelas folhas dos açaizaeiros
o menino quase pedreiro
volta de passos ainda mais ligeiros
com a certeza de seu ópio
entre os dedos amarelos
e a mão calejada de cimentos e sonhos

uma tarde de chuva fina, rala

tranquedo

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Almanaque Aquiry - Dia De Mingau

Da coluna de Luís Carlos, A Gazeta, 06.05.2008

" Até que enfim saiu algo que não cheira ao bolor oficial na TV Aldeia: o programa Almanaque Aquiry, leve, dinêmico, é interessante. Araruta teve o seu dia de mingau."

depois desta , o mingau continua apetitoso...todas as quintas feiras, as 20:30 na TV ALDEIA , com reprise na sexta as 12:30, sábado 21:00 as e domingo as 21:30 hs...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A favor do preconceito

Os seis vereadores que votaram contra o projeto da vereadora Ariane Cadaxo (PC do B), que instituía o dia 17 de maio como o “Dia Municipal contra a Homofobia”, deram sua parcela de contribuição para o aumento do preconceito e do número de assassinatos diários que acontecem no Brasil, apenas porque as vítimas são homossexuais.

da coluna GIRO GERAL
por Moisés Alencastro

As flores de cusco


Diário de Bordo Festcine Amazônia - A Caminho de Cusco

Por Ismael Pinheiro

AMIGOS,

Janaína se aproxima e diz: pelo menos o céu está lindo. Olho para cima e não deixo de admitir. Ali estão todas aquelas estrelas que em livros de geografia tinham aqueles desenhos representados, dos quais eu nunca consegui realmente ver o sentido. A não ser uma panela, que eu desenhava mentalmente.

Mas o céu estava lindo.

Baixo o olhar e vejo seu Geraldo, o motorista, embaixo da van. É o quarto problema só esta noite. Eu ainda não saberia,mas o próximo faria com que a equipe pela segunda vez passasse a noite na carretera peruana.

Estamos exaustos, com frio, sujos e com sono.

Um pouco atrás:

Marcapata impressionou pelas nuvens que nos atravessam, pela hospitalidade do povo, pela comida duvidosa e pelo frio intenso.

Mas Cusco ficará na lembrança. É uma cidade cosmopolita, que une o tradicional e o moderno. Tem gente bonita de todos os tipos e lugares. Suas ruas pequenas encantam. Me apaixonei.

Chegamos e ficamos hospedados no hotel de um holandês que cobra até pela água da recepção.

Logo resolvi dar umas bandas pela cidade. Sobe aqui, desce ali, me perco por aquelas ruas estreitas. Onde estou? Vejo um bondinho desses que fazem trajetos turísticos e pago o mico. Subo e vou conhecer a cidade dessa forma. É uma hora de viagem. Vejo o estádio do Cienciano e lembro que leo pediu uma camisa deles, mas não vou poder levar.

A guia explica o que vemos, mas eu não presto atenção a ela, mirando outras paragens mentais. Subimos ao topo da cidade. É onde compro um xadrez inca (toma-te mika). Chique.

Aliás, falar em chique, almoçamos num restaurante digno de Amaury Jr, que se me visse brindando a taça de vinho com dona Marli, mãe de Levy, certamente me entrevistaria. Pareço algo como o omar shariff, com meu bigode e cavanhaque. No prato, llhama e alpaca, e um peixe ótimo chamado cheviche.

E a noite de Cusco?

Bom, que michelle não me ouça,mas durante três horas fiquei perdidamente apaixonado por uma cantora negra chamada sheyla, que canta blues, reggae, soul. Estamos num bar chamado Roots, eu e Sergio, um figuraça. Havíamos jantado num bar pequeno, como todos, e aconchegante, como todos. A decoração misturava instrumentos e equipamentos antigos na parede. Coisas como saxes, foles, acordeãos.

Todos resolveram voltar ao hotel. Eu e sergio fomos desbravar a noite. Primeira parada: um bar com uma banda de cabeludos tocando metallica. Não estou muito testosterona essa noite, para encarar com agrado aquilo. E tenho a impressão que o vocalista desafina.

Menos de meia hora depois estamos na rua. Vamos ao roots. É um bar meio reggae. O povo lá me parece mais interessante a primeira vista. Me sinto em casa.

Sheyla, a negra li, a dani sá do peru, está por ali, bebericando algo que me dá curiosidade em saber o que é. Eu e sergio nos abalconamos e quase caímos pra trás com o preço da cerveja: dez soles. Puta madre!!

Sheyla começa a testar o equipamento. A banda improvisa, ela vocalisa e vez em quando dá uma dançadinha. Eu e sergio babamos. Então começa. vejam bem amigos: ela emenda uma versão poderosíssima de Come Together, dos Beatles e emenda com Rehab, de Amy Winehouse. Nesse momento, já estou mentalmente ajoelhado beijando os pés dela e dizendo: venha deusa inca!!!

De manhã partimos para Machu Pichu. Metade da turma tá estropiada. Jurandir bateu no hospital, Golda quase desmaiou duas vezes, delano e neguinho tb. Eu estou acometido de um desarranjo terrível. E por aí vai.

Querem saber? Sinceramente?

Machu Pichu é programa de índio. No mau sentido. Tudo muito organizadinho, burocrático,caro, cheio de japonês. E onde tem japonês...

É claro que a paisagem deslumbra. Deito na grama à sombra e fico pensando nos erros e acertos da vida, olhando as montanhas.

Tb não dá para deixar de pensar que esses incas consumiram muita folha de coca para ter a idéia de subir esse morro e construir esse troço maluco aqui em cima. O roteiro dura duas horas. Há uma viagem de trem muito bacana e uma parada no vilarejo de machu pichu, que é muito bonito.

E comércio artesanal pra tudo quanto é lado.

A volta de cusco é complicada. Como os dois carros pregaram e ficaram em marcapata, voltamos de táxi e de uma van alugada. Só que a van é conduzida pelo mesmo figura que quase nos mata da vez anterior. E quase faz isso novamente ao derrapar à beira do precipício.

Levy vai à loucura.

Foi uma noite péssima. O frio absurdo, eu um pouco febril. Todos cansados e com algum tipo de problema. Chegamos em Marcapata, apenas para trocar de carro.

Seguimos viagem pela cordilheira. É uma viagem difícil,com a van trôpega e guerreira.

Como eu disse antes. A equipe acaba tendo que ficar dormindo na estrada.

Queremos chegar, queremos partir.

Quando atravessamos a balsa de porto maldonado nos parece que estamos a ponto de desabar. Todos estão no limite.

Na barreira peru brasil, policiais corruptos ainda esfolam o bolso de levy para dar o carimbo de saída. Entramos no acre. Dormimos em assis brasil. De manhã café da manhã brasileiro, com direito a tapioca. Delícia.

Em brasiléia almoçamos numa churrascaria. Feijão. Feijão, feijão.
Na caminhonete Levy liga o rádio e Zé Ramalho canta chão de giz. “No mais estou indo embora”. Bate uma emoção estranha.


Chegamos em porto velho conscientes da missão cumprida. Com perdas e ganhos, dores e contentamentos. Recomeços virão. Sempre virão.

Vejo meu filho dormindo, deito ao lado dele e o abraço. Desmaio em seguida.

Resta Belém. Sempre Belém.